terça-feira, 20 de dezembro de 2011

Archer Quest - Capítulo 7


Capítulo Sete


O rei levantou-se furioso. Como aqueles moleques não haviam morrido?! Era inaceitável. Ele precisava fazer alguma coisa.
- Esse golpe não foi válido!- gritou o monarca, sorrindo consigo mesmo. Sua palavra, em grande parte do tempo, era lei.
- Como assim?- berrou Avalas, alterado. Uma veia pulsava em sua testa. – Como não valeu? Corash nunca infringiu uma única regra dessa arena estúpida!
- Esse golpe foi, claramente, mágico. E Corash se disse arqueiro, não mago. A não ser que a senhorita Mahslia o tenha ajudado, mas ela não moveu um músculo sequer. Então, o golpe foi inválido. E eu condeno vocês à...
- Nada. Quem condena sou eu, e não Vossa Majestade- disse uma voz de trovão. Um elfo alto e magro ergueu-se do seu trono no camarote do rei. – Por favor, não se esqueça de quem é o Grande Juiz aqui.
O rei hesitou, mas cedeu a palavra ao outro elfo, com a cabeça baixa. Ele parecia...
- Derrotado. Humilhado. Não é o que parece, Corash?- perguntou Mahslia, surpresa com a súbita mudança de postura do monarca.
- Sim. Lian Fiar sempre foi imponente. De fato, por sua imponência e sabedoria, conquistou merecidamente o posto de Grande Juiz.- respondeu Avalas.
- Lian Fiar? Que nome estranho. Como você o conhece?- questionou Corash.
- Deixe de ser ignorante, Corash. “Lian” significa “Mestre”- retrucou Avalas, impaciente.- Eu fiz a Escola Militar, esqueceu? Ele era o professor de Arquearia e de Estratégias. As aulas dele eram excelentes.
- Calem a boca!- sussurrou Mahslia, mortificada- Lian Fiar quer falar!
Ambos Corash e Avalas coraram e silenciaram.
- Muito bem. Agora que temos silêncio, podemos começar o julgamento.- sentenciou o elfo, magnânimo.

A esta altura, talvez seja apropriada uma breve descrição da política de Lynzea.
Existiam cinco Poderes do governo, cada qual com vantagens e prejuízos em relação as outras, mas com igual influência.
O primeiro deles era a Aliança Real, formada pelos nobres e membros da Família Real, ou simplesmente Família. A Aliança Real cuidava das questões administrativas de Lynzea. Tinha muito poder, aparentemente, mas, na verdade, era o governo mais fraco do continente, apesar de ser, de longe, o mais luxuoso. Como exemplo de sua luxuosidade, só o rei e sua comitiva podiam andar a cavalo no reino quando não fosse treinamento militar ou guerra.
O segundo Poder governamental era chamada de “O Tribunal”, ou simplesmente “Tribunal”. Responsável por fazer cumprir as leis de Lynzea, O Tribunal era composto por vários juízes, espalhados pelo território de Lynzea. Em sua máxima instância, o Tribunal era composto por dez Juízes, que não poderiam conversar com os outros para não serem influenciados em seu julgamento. A sentença de cada Juiz tinha de ser explicada, ou o julgamento seria refeito, até que a justiça fosse feita. Em caso de empate, o Grande Juiz decidiria o que seria feito. O poder d’O Tribunal era, provavelmente, o maior. Os outros poderes, invariavelmente, acabavam se curvando perante O Tribunal.
O terceiro Poder era conhecido como LPMC, Laboratório de Pesquisas Mágicas e Cientificas, responsável pela promoção de novas tecnologias bélicas (espadas mais resistentes, arcos que alcançassem mais longe, etc) e desenvolvimento de magias, tanto de cura quanto de luta. O chefe do LPMC, conhecido apenas como Sarbrar, era um homem magro e pequeno, apesar de ser inteligentíssimo e ter uma aura que dava medo. O LPMC era tratado como um órgão a parte, livre para fazer o que quisesse, desde que fosse legalizado.
O quarto Poder se chamava Ministério da População. Oficialmente, claro. Para o povo, o Ministério da População se chamava Bem-Estar. Na verdade, esse deveria ser o objetivo final do Ministério. Zelar pelo interesse da população, propondo novas leis, projetos sociais, construindo escolas e hospitais... O Ministro, invariavelmente, era um elfo amado pelo povo.
O quinto e último Poder era o militar. O Eixo da Guerra era um dos Poderes mais importantes, por ser o poder que defendia o reino de Lynzea nos tempos de guerra. O Eixo da Guerra possuía um dos mais poderosos exércitos da época, graças ao Comandante-Geral Malrua, também conhecido como Estrela da Guerra, que era um gênio estratégico.
Todos os meses os chefes de governo se reuniam oficialmente para discutir a política do reino e assistir algumas lutas na Arena. Nunca havia acontecido do Grande Juiz em pessoa assumir um julgamento. O rei estava abismado com o que havia acontecido.
- Qual o nome do arqueiro?- perguntou Lian Fiar
- Corash, senhor. Corash Lam.- respondeu Corash. Ele falaria antes do rei?
- Muito bem, Corash. Conte-nos o que aconteceu.
- Bom... Meus companheiros e eu estávamos viajando. Para dar passagem ao rei, que ouvimos à distância, nos embrenhamos na mata, onde não o incomodaríamos. Porém, quando estávamos conversando, fomos capturados por batedores do rei. Fomos trazidos para cá e...- hesitou Corash, pensando no que acontecera. De fato, agora parecia surreal.
- Prossiga. E não se preocupe, o que for justo será feito.- encorajou Lian Fiar, acenando positivamente com a cabeça.
- Bom, nós lutamos, como todos viram. E a flecha flamejante simplesmente...
- Saiu. Veio do fundo de sua garganta, como algo ancestral despertado em você.- completou o Juiz, acenando compreensivamente com a cabeça.
- Exato! Como o senhor...
- Não importa como sei, o que importa é que sei.- respondeu, magnânimo, Lian Fiar. – Terminou, Corash?
- Sim...- respondeu o arqueiro, hesitante
- Então, é a vez do nosso queridíssimo monarca.- replicou Lian Fiar, com certa ironia na voz. Era claro que existia uma rixa entre o rei e Lian Fiar. Algo na relação deles não tinha ocorrido nada bem.
- Perfeito.- respondeu o rei, levantando-se.- Caro senhor Juiz, este moleque disse a nós que era um arqueiro.
- Ele falou por vontade própria?- perguntou o Juiz, com sagacidade.
- Er... Não. Nós os capturamos como reféns, após um de nossos batedores ouvir coisas deles. Nós não fizemos interrogatórios, apenas perguntamos suas classes e os amarramos. Eles foram trazidos como gladiadores.
- Certo, e qual o seu argumento?- tornou Lian Fiar, com tédio.
- Como ele se disse arqueiro, não pode usar magias!- respondeu o rei, sorrindo maliciosamente.
- Entendo... Você lembra do que ele disse, especificamente?- questionou o Juiz, com um brilho nos olhos. Um brilho que deveria ter alertado o monarca.
- Sim. Ao perguntarmos: “Você, garoto que usa um arco, é um arqueiro?”, ele respondeu: “Sim, sou da vila de Sparon, arqueiro em treino”. Para começar, como arqueiro em treino, nem poderia estar viajando sozinho.
- Para começar, meu caríssimo monarca, os garotos nem deveriam ter sido trazidos para a Arena. Apenas os guerreiros formados e maiores de idade podem lutar aqui. Então, o senhor é tão ou mais culpado que ele. Corash Lam omitiu informações, mas o senhor infringiu as leis.- disse Lian Fiar, ferozmente. – Portanto, caro monarca, eu digo que Corash Lam é inocente, em relação à sua acusação.
Avalas, Mahslia e Corash respiraram, aliviados. Livres, finalmente?
- Porém...- hesitou o Juiz, como que lutando contra si mesmo- Corash Lam e seus colegas atuaram, respectivamente, como mentiroso e cúmplices. A mentira é passível de punição, quando sua magnitude é grande. Uma morte é grande coisa. E, segundo as leis de Lynzea, um participante só pode ser retirado de um torneio que começou a participar de um modo: sendo impossibilitado de lutar. Assim, condeno Corash Lam e seus amigos, Avalas e Mahslia, à prisão e à luta na Arena.

Archer Quest - Capítulo 6

Capítulo seis



Avalas pegou sua espada presa as costas e falou para os companheiros estenderem a mão. Quando obedeceram, o grande elfo quebrou as algemas como se fossem feitas de manteiga.
- Quebre as minhas! Eu não luto com duas mãos!- pediu Avalas a Corash, que também golpeou as algemas uma, duas, três vezes até quebrar, enquanto Mahslia desferia esferas mágicas contra os orcs, mantendo-os afastados.
Avalas recuperou sua grande espada e a segurou na mão direita. O mais impressionante, ele era o único elfo capaz de fazer isso. Os outros precisavam das duas mãos.
- Corash, ataque o feio do meio. Mahslia, você cuida do feio da direita. O da esquerda é meu!- disse ele, correndo para seu inimigo enquanto flechas e esferas de magia passavam ao seu lado.
- Você acha mesmo que é páreo para mim, elfo desgraçado? Por esse atrevimento, você vai morrer!- gritou o orc, levantando e abaixando o machado na direção da cabeça de Avalas, que, por sua vez, aparou o golpe com a espada e socou o inimigo no peito. Foi quase tão efetivo quanto tentar apagar fogo com marshmallows, mas serviu para assustar o orc. Avalas era um oponente a ser respeitado e temido, justamente porque ele era louco de socar um orc quando tinha uma espada em mãos.

O orc do meio sabia que Corash não iria durar muito. Era impossível ele ganhar: suas flechas eram limitadas. Quando acabassem suas flechas, acabaria sua vida. A não ser que os amigos o ajudassem... As flechas estavam vindo rápidas e em grande quantidade. Várias atingiam em pontos não vitais, ou seja... era só esperar que ele veria sangue em seu machado.


Mahslia, apesar de frágil, era destemida. Não temia chegar perto do inimigo para usar uma magia. Um erro, talvez, mas o inimigo não sabia o que fazer, vendo uma maga assim tão perto dele. E isso o machucava. Seriamente.
- Pare com isso, elfa maldita!- berrou o orc, irritado.
- Venha fazer, então!- respondeu a elfa, provocando o inimigo.
O orc saltou na direção dela numa velocidade que ela julgava impossível e preparou o machado para bater na cabeça dela. A morte dela era certa.


Corash viu que a amiga estava em perigo. Ele não podia deixar que ela morresse. Então, ele fez a única coisa que poderia. Atirou na cabeça do orc que atacava Mahslia. E acertou.
Pena que o orc com quem ele estava lutando também viu a duvida dele. E partiu para cima do arqueiro.



Avalas estava com dificuldade de achar uma brecha na defesa do inimigo, pois ele atacava rápido demais. O grande elfo nada podia fazer, a não ser se defender e observar os companheiros. “Companheiros? Não mais, Avalas. Agora eles são seus amigos, querendo você ou não” pensou ele, que não via como ajudá-los sem ser morto.
O orc de Corash avançava sem freios, o machado pronto para cortar qualquer parte élfica que cruzasse com ele. Avalas não podia deixar isso acontecer. Ele aparou um outro golpe de machado com sua espada e empurrou o inimigo, que caiu com o traseiro no chão, bufando, e correu para salvar Corash.
- Morra, elfo!!!- berrou o orc, brandindo o machado contra o tronco desprotegido de Corash.
- Não!- berrou Avalas, parando o golpe com sua espada e fazendo uma acrobacia para passar por cima do machado do inimigo e girando com os braços estendidos, em direção á cabeça do inimigo.
Dois já estavam mortos, faltava um, que tentava estupidamente escalar as pedras para fugir.
- Obrigado, Avalas. Você me salvou. Não é típico de você fazer isso.
- Eu sei... amigo- disse o grande elfo, sem coragem de olhar para o surpreso arqueiro.
- Olha, este momento está lindo, mas que tal matarmos este último orc?- perguntou Mahslia, irritada por quase ter morrido.
- Verdade. Posso fazer as honras?- perguntou Corash, pegando sua última flecha e preparando-a no arco.
- Ele é seu- disseram os outros dois, se afastando. Corash mirou, mas antes de consegui atirar, o orc se virou e saiu correndo em sua direção. Imparável. Apenas cem metros de corrida. Avalas e Mahslia não conseguiriam ajudá-lo agora, de tão rápido que estava o orc.
O fundo da garganta de Corash começou a coçar, como se algo quisesse sair de lá. Ele abriu a boca e disse, enquanto soltava a flecha do arco:
- Eldr Or!!!- aquela com certeza não era sua voz. Era muito mais grave, rouca e retumbante. Algo ancestral, antigo. Algo que fez com que a flecha pegasse fogo.
A flecha flamejante viajou até chegar no orc, que sentiu seu crânio se esmigalhando e seu corpo queimando. A magia do elfo era forte. O suficiente para pará-lo.

Archer Quest - Capítulo 5


Capítulo cinco


Corash e seus companheiros já estavam caminhando há cinco horas. Os sorrisos e brincadeiras entre ele e Mahslia haviam cessado, e só o que havia entre todos eles era um silêncio cansado. Apesar disso, eles prosseguiam.
- Que som é esse?- perguntou Avalas, quebrando o silêncio e apurando os ouvidos.
Realmente, um som abafado e ritmado chegava às orelhas pontudas dos companheiros.
- Parecem...- começou Corash
- Cavalos!!! Para a mata, rápido!- gritou Avalas, descontrolado, empurrando os companheiros para dentro da mata fechada e pulando atrás deles.
- Você ficou louco?!- berrou Corash, assustado.- Por que você...- tentou continuar ele, antes que a manzorra de Avalas tapasse sua boca.
- Fale baixo, idiota! Esse som é de cavalo. Apenas o rei e sua comitiva real possuem cavalos.
- E por que não podemos falar com o rei sobre nossa missão?!- perguntou Mahslia- Tenho certeza que o rei nos apoiará. Talvez ele até nos mande reforços!!!
- Apenas nos seus sonhos delirantes, Mahslia- respondeu Corash, desvencilhando-se de Avalas.- É mais provável que o rei nos capture e nos torture até falarmos tudo o que sabemos.
- Além disso, o rei não gosta muito de mim- ajuntou Avalas, concordando com Corash.
- E alguém gosta, Avalas?- perguntou uma voz cruel e cortante, colocando uma espada no pescoço do grande elfo. Corash e Mahslia, subitamente, foram dominados por dois elfos surgidos do meio da mata.- Vocês vêm comigo. Com o que vocês sabem, minha vida está garantida.


Os três companheiros foram vendados e amarrados antes de começarem a andar. Suas armas e mochilas foram entregues para o rei, que, ao invés de torturá-los, os colocou presos em cavalos, que por sua vez estavam amarrados a outros cavalos. Onde a comitiva fosse, eles iriam atrás.
- Ora, Avalas, há quanto tempo!!! Você aparenta ter dobrado de tamanho!- disse o rei, pomposo
- E você parece ter dobrado seu vocabulário almofadinhas ridículo- cuspiu Avalas, com desprezo.
- Avalas, seja razoável! Nós não podemos esquecer os erros do passado e nos concentrarmos no futuro? Sabe, uma guerra eclodirá logo, e eu não gostaria de morrer sabendo que alguém não perdoou os meus erros.- disse o rei, eloqüentemente, sendo aplaudido pela comitiva.
- Se a sua preocupação se estendesse a qualquer pessoa do reino que não pode te dar qualquer vantagem, ela seria tocante. Acontece que eu não sou burro para acreditar que você se preocupe com qualquer um que não você.- retrucou o grande elfo, astuto.
- Avalas, você está passando dos limites!- sibilou Mahslia.
- Silêncio, sua tola. Não meta seu nariz onde não foi convidada- repreendeu o rei, encarando o grande elfo abertamente.- Sabe, Avalas, você merece a morte. Mas...
- Mas você sabe que você não conseguiria me matar se eu estivesse com minha espada e não estivesse preso!- gritou o espadachim, corando de raiva.
- Não, meu pequeno súdito.- disse o rei, com um traço de irritação na voz- Mas vocês três darão excelentes gladiadores. A Arena precisa de pessoas como vocês.


Uma espada, um cetro um arco e uma aljava com flechas foi tudo que deram aos companheiros. Todas as armas eram toscas e vagabundas. Estava claro que o rei não queria ver os três amigos vivos. Eles estavam em uma cela com porta gradeada.
- E agora?- perguntou Mahslia, desesperada. Ela nunca estivera presa antes.
- Não adianta tentarmos fugir- respondeu Avalas, calmo.- Essas grades são, provavelmente, reforçadas com alquimia, e não magia. Reparem que eles deram um cetro para Mahslia, sem medo de suas magias. E também nos deram armas, o que significa que brutalidade não adiantará aqui.
Os argumentos de Avalas eram coerentes, então não foram contestados. Os três ficaram em silêncio, até que um guarda os chamou.
- Venham cá, cães sarnentos!- gritou o guarda, prendendo os pulsos dos amigos e tirando-os da cela.- Andem por este corredor até o final! Vocês estão sendo convocados para lutar! E não tentem nada! Eu tenho uma lança, e até hoje eu nunca errei um alvo!
Os companheiros se entreolharam. Se estivessem com as mãos livres, eles certamente poderiam dominar o guarda, mas... Era melhor não arriscar a vida algemados.
- E agora, Avalas?- sussurrou Corash, por entre os dentes.
- Lutamos por nossas vidas, o que você esperava? Não temos outra opção: ou lutamos ou morremos. E eu prefiro lutar.- retrucou o grande elfo.
Eles continuaram por um grande túnel escuro e saíram para a arena.
O chão redondo da arena era de terra batida. Uma grande multidão urrava, olhando para os novos gladiadores com sede de sangue. Do ponto mais privilegiado dos assentos, um camarote dourado era ostentado. O rei e seus cupinchas. As pedras que foram usadas na construção da arena eram negras e lisas. Impossíveis de escalar.
Do outro lado de onde os companheiros estavam, um portão de ferro fechado escondia o inimigo deles.
Enquanto esperavam o inimigo, Avalas começou a passar a mão nas pedras e pisar mais forte que de costume.
- O que...- começou Mahslia.
- Testando terreno. Calculando probabilidades e possibilidades. Tentando sobreviver.- respondeu Avalas, sem olhar para a companheira.
- Senhoras e senhores! Bem-vindos à Arena Querua!!! E hoje, a luta será de intensas emoções!- gritava um Mestre de Cerimônias, com a voz magicamente ampliada.
“As regras são simples! Seis gladiadores lutarão entre si! Podem fazer parcerias ou lutar por si próprios, com duas condições: três gladiadores lutarão algemados, enquanto os outros três não!” disse o homem, para delírio do público.
- Adivinhem só quem lutará algemado?- perguntou Avalas, por entre os dentes. Sua voz pingava ódio.
- A segunda condição é que apenas três gladiadores serão classificados! Os outros três morrerão!- continuou o Mestre de Cerimônias.- Agora, o rei vai falar algumas palavras.
Altivo e imponente, o rei caminhou para a frente de seu pomposo camarote, onde todos pudessem vê-lo. Posição de poder.
- Gladiadores!- gritou ele.- Lutem como se sua vida dependesse disso!
O público riu e aplaudiu seu engraçado governante, que voltou para seu assento, satisfeito.
“Que abram os portões!”- berrou o Mestre de Cerimônias.
Como mágica, os pesados portões se abriram e, de dentro de um corredor mal-iluminado, saíram três figuras grandes, implacáveis, musculosas e feias, com machados enormes nas mãos e armaduras completas de batalha.
Orcs sedentos de sangue. Isso nunca era uma visão bonita.

Archer Quest - Capítulo 4

Capítulo quatro



Avalas não era um companheiro alegre, nem mesmo sorridente ou animador. Parecia apenas um gigante emudecido, perdido em seus pensamentos. Enquanto Mahslia e Corash aproveitavam a liberdade recém conquistada com piadas, palavras e sorrisos, Avalas apenas olhava os novos companheiros.
A história de vida do grande elfo parecia um livro. Nascera, para logo ser abandonado por sua mãe. Seu pai, um elfo beberrão e despreocupado, entregou o bebê para um orfanato assim que soube. Não queria a criança.
Com mais idade, Avalas percebera que não era igual as crianças do orfanato. Ele era maior e mais forte. Até seu físico robusto destoava do físico normal dos elfos. Por causa disso, aos treze anos ele se candidatou a aprendiz do Exército de Lynzea. Quando o recrutador do exército viu sua altura impressionante e seus ombros largos, aceitou-o imediatamente no esquadrão dos espadachins. O recrutador nunca se arrependeu de sua escolha.
Com quinze anos, Avalas entrou no grupo dos formandos espadachins, três anos mais cedo que o normal para quem começava com treze anos. Conhecia centenas de técnicas, era o mais alto e mais forte entre os elfos e tinha uma grande inteligência, fruto de muitas noites perdidas em nome do estudo. Seus treinadores estavam orgulhosos: Avalas era o garoto modelo da academia!
O que eles não esperavam era que o grande elfo, um gigante aparentemente manso, fosse capaz de se rebelar. Ele estava cansado da sujeira política que era essa história do Exército de Lynzea. Seus esforços solitários, em busca de técnicas de guerra e conhecimentos estratégicos de nada valiam? Foram os professores que ensinaram isso? Não!
Assim, na calada da noite, enquanto seus instrutores e mentores dormiam, ele pegou sua espada e, silencioso como um sussurro, matou todos os altos generais, limpou o sangue da espada e voltou a dormir, com a consciência mais leve.
O único porém é alguém havia visto ele levantar. Este alguém avisou um professor, que avisou o novo general. Este, por sua vez, avisou o rei de Lynzea que resolveu expulsar Avalas da capital do reino e mandá-lo para Sparon, sob o pretexto de “colocá-lo em posição estratégica, em um lugar que o clima seja bom para seu temperamento e que ele possa esvaziar sua ira sem matar pessoas.”
A vida calma na pequena vila de Sparon irritava Avalas. Ele nascera para a grandiosidade, e não para uma pequena vila de aldeões simplórios. Assim que a primeira oportunidade de sair do marasmo que era Sparon e ir em alguma aventura apareceu, o grande elfo agarrou-a com unhas e dentes. Seria perfeito, não fosse Corash e Mahslia. Que haviam parado e estavam discutindo alguma coisa.
- ...temos que ir para a direita, Mahslia!- exclamava Corash.- Só assim chegaremos rapidamente à Monhtanha Selque!
- Não, Co! Temos que dar a volta, indo pela esquerda! Se formos pela direita, inevitavelmente passaremos pelas Dunas Congeladas! Certo, Avalas?- retrucou Mahslia, surpreendendo o grande elfo com sua pergunta.
- Acho que sim. É melhor evitarmos as Dunas Congeladas, pois não viemos preparados para encará-las. Além disso, elas são imensas, o que significa que poderemos nos perder nelas facilmente. Melhor não arriscarmos e irmos pela esquerda.- ponderou Avalas, sensatamente.
- Ótimo. Demoraremos mais um dia para chegar na montanha Selque. Um dia em que Sparon pode ser destruída- respondeu Corash, amargamente.
- Não seja debilóide, Corash. Nenhuma vila é destruída em um único dia, ainda mais uma vila com tantos guerreiros como Sparon. Um dia não fará diferença.- sentenciou Avalas.
Corash resmungou alguma coisa ininteligível e calou-se, seguindo os companheiros pelo caminho da esquerda.

Archer Quest - Capítulo 3



Capítulo três



Corash se virou violentamente, e viu o elfo grande e frio que sugerira o primeiro plano de batalha.
- O que você quer?- perguntou ele ao outro elfo, rudemente.
- Eu? Eu quero acompanhá-los. Eu não agüento mais essa vidinha pacata do vilarejo.
- Nós nem sabemos quem é você! Como quer que confiemos em você?- perguntou Mahslia.
- Meu nome é Avalas, ao seu dispor. E não, vocês não podem confiar em mim. E a maior prova disso é que, se vocês não me deixarem acompanhá-los, eu poderia “deixar escapar” para o Nisual que vocês saíram da vila sem a permissão dele. E acho que ele não vai ficar muito feliz. Em compensação, se vocês me deixarem ir com vocês, o Nisual irá achar que vocês foram até a capital do reino buscar uma caravana de guerreiros, graças a um bilhetinho que eu irei plantar para despistá-lo. Vocês decidem.
Corash pensou seriamente nisso. Talvez outra cabeça no time fosse bom, mas eles não conheciam o tal Avalas. Corash já o havia visto com várias garotas diferentes, mas era apenas isso que ele conhecia.
- Qual é a sua arma?- perguntou o aprendiz de arqueiro, desconfiado.
- Eu uso espadas. Mas sou apenas um aprendiz.
- E como você quer acompanhar-nos sem conhecer a fundo os segredos da sua arma?- blefou Mahslia. Para a surpresa da elfa, o estranho sorriu.
- Do mesmo jeito que vocês, aprendizes, eu também tenho o direito de não conhecer minha arma tão bem quanto os mestres. Ou não?
Mahslia enrusbeceu e se calou. Corash ainda avaliava Avalas abertamente.
- Venha conosco então, Avalas. Mas você está desarmado. Como pretende se defender de monstros apenas com os punhos?
- Quem disse que eu estou desarmado?- perguntou o gigante, virando-se de costas. Ali, presa pelo cinto do elfo, havia uma bainha, que continha uma espada grande.- Eu nunca ando desarmado... qual é mesmo seu nome?
- Corash.
- Eu nunca ando desarmado, Corash.- repetiu ele, virando-se para os companheiros. – Ao contrário de vocês, eu sou precavido- disse ele, mostrando uma mochila que até agora passara despercebida pelos amigos.
- Ótimo. Estamos prontos, então. Vamos.- decidiu Corash. Ele virou-se para o portão e saiu da vila, com seus companheiros em suas costas.

sexta-feira, 7 de outubro de 2011

Auto da Barca do Inferno- Review

Auto da Barca do Inferno-Review.

Olá. Estou aqui hoje para fazer o review de um livro que li recentemente, e pelo qual me apaixonei. Este livro é o Auto da Barca do Inferno.
Escrito por Gil Vicente no auge do Humanismo, o Auto da Barca do Inferno conta como (na concepção do autor) se dá a passagem dessa vida para uma melhor. Quer dizer, para os bons. Criticando todas as classes sociais, Gil Vicente diz que, após a morte, os maus vão para uma outra dimensão, com pertences importantes para si, onde há duas barcas por eles esperando: a Barca da Glória e a Barca do Inferno. Sem perdoar, o autor defende várias teses: Não adianta assistir missas e pecar depois, que não será salvo. Não adianta ser clérigo e não cumprir os desígnios de Deus... O Inferno te aguarda do mesmo jeito.

A linguagem usada por Gil Vicente é, obviamente, arcaica. Afinal, o Humanismo aconteceu nos séculos da Idade Média. Porém, apesar das dificuldades geradas pela linguagem, percebe-se a alta qualidade da literatura: Gil Vicente utiliza de ironias, metáforas e hipérboles para dar humor e acidez ao texto. Eu, sinceramente, não sei como esse maravilhoso autor não foi perseguido pela "Santa" Inquisição. Se eu fosse o papa, com certeza não iria gostar nem um pouquinho do que Gil Vicente escreveu sobre a minha instituição. Por mais verdade que fosse.

Portanto, se você é um apreciador da boa literatura, não deixe de ler este livro. É incrível. Mesmo.

E-Mail do Livreiros de Plantão: livreirosdeplantao@hotmail.com


Obrigado, e boas leituras ^^

domingo, 2 de outubro de 2011

O Herdeiro Guerreiro- Review


Olá. Incrivelmente, estou postando um segundo review em um curto espaço de tempo, o que provavelmente significa que estou novamente animado com o blog.
Bom, dessa vez farei o review de um livro interessantíssimo: O Herdeiro Guerreiro, da americana Cinda Williams Chima.
O livro conta a história de Jack, um garoto americano que vive na cidade de Trinity. Sim, a mesma da famosa universidade. Por ser uma cidade pequena, todos conhecem Jack. E Jack conhece todos. A história começa a se desenrolar quando Jack, que tem "problemas no coração", esqueceu de tomar seu remédio. E, no teste de futebol em que participa naquela tarde, seus poderes de guerreiro são liberados. E Jack é perseguido por organizações poderosíssimas: as Rosas.
O Herdeiro Guerreiro é um livro incrível. Chima consegue misturar perfeitamente realidade e fantasia. Enquanto Jack descobre seus poderes e seus limites, também é mostrado um incrível plano de fundo histórico: as Rosas são, na verdade, as que fizeram a Guerra das Rosas na Inglaterra, das famílias de Lancaster e York.
 Além disso, a autora consegue criar a profundidade das personagens de uma maneira no mínino curiosa: colocando personagens opostos, ou seja: Jack é razoavelmente forte, mas um pouco irritadiço. Will, por sua vez, é um touro de forte, mas é a paz encarnada, enquanto Fitch, que é magrelo e tem gostos um pouco excêntricos, é absolutamente pirado. E eles são os melhores amigos possíveis.
Portanto, se você quer se divertir com um livro, eu recomendo este. Não se arrependerá, eu prometo.

E-Mail do Livreiros de Plantão: livreirosdeplantao@hotmail.com


Obrigado, e boas leituras ^^